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O juízo de valor que derrubou Divaldo Franco e Chico Xavier


"Não julgueis para não serdes julgados", dizia o ensinamento de Jesus. Pegando carona, o anti-médium mineiro Francisco Cândido Xavier criou um arremedo da mesma ideia: "Não julgueis quem quer que fosse". Mas desobedeceu o que ele mesmo disse.


Em 1966, o pior julgamento de valor que se pode dar contra multidões humildes foi dado por Chico Xavier. No livro Cartas e Crônicas, Xavier acusou de terem sido "romanos sanguinários" os pobres cidadãos que, de várias partes do Grande Rio, foram assistir alegremente um espetáculo circense em Niterói, em dezembro de 1961, e foram vítimas de um incêndio criminoso.

O agravante da infundada acusação - feita sem provas documentais, de maneira generalizada, sem estudo da Ciência Espírita e preocupada com suposta encarnação longínqua e superada - é que Chico Xavier, para se livrar de culpa, botou a responsabilidade no pretenso autor espiritual, Humberto de Campos, muito mal disfarçado pelo codinome Irmão X.

Só neste episódio, Chico Xavier cometeu várias perversidades. Tido como "símbolo máximo de humildade", o anti-médium mineiro acusou pessoas humildes de terem sido pessoas sanguinárias que "pagaram pelo que fizeram". Segundo, botou a responsabilidade em um escritor já falecido há décadas, ofendendo ele e seus herdeiros, não adiantando aquele teatrinho de "bondade" para aliciar o produtor Humberto de Campos Filho, anos antes.

Se verificarmos, no entanto, que, em 2009, caso semelhante ao de Xavier rendeu processo por danos morais, a coisa piora para Xavier. Sabe-se que, no livro O Voo da Esperança, que o suposto médium Woyne Figner Sacchetin atribuiu levianamente ao engenheiro Alberto Santos Dumont, pioneiro da aviação brasileira, as vítimas do famoso acidente da TAM no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, há dez anos, foram acusadas de terem sido "romanos sanguinários".

É exatamente a mesma acusação de Chico Xavier em Cartas e Crônicas, com os mesmos artifícios. Mas, com um aspecto gravíssimo. As vítimas do acidente da TAM tiveram dinheiro para pagar advogados e processar Woyne por danos morais e o livro teve que ser retirado das livrarias. No caso de Chico Xavier, são famílias pobres que não tinham recursos para pagar advogados, e por isso a crueldade teve um peso muitíssimo maior.

Recentemente, em dezembro de 2016, durante uma entrevista depois de um "congresso espírita" na Espanha, o anti-médium baiano Divaldo Franco, perguntado sobre as mortes de refugiados do Oriente Médio na travessia para a Europa, também deu um comentário extremamente infeliz:

"No campo das deduções e de acordo com o meu pensamento, penso que aqueles que estão hoje, de volta à Europa, são os antigos colonizadores que deixaram, até hoje, a América Latina na miséria.
Como foi negado todo o direito aos seus residentes, como aculturaram os selvícolas, destruindo culturas veneráveis, pela Lei de Causa e Efeito aqueles estão retornando hoje à pátria, no estado de miséria, e que ameaçam os próprios países de onde saíram, para, um dia, buscarem a fortuna para o conforto europeu".


Se valendo de seu prestígio religioso, Divaldo Franco feriu com palavras doces, como uma mancenilheira de palavras com sabor de mel mas que atingem feito um punhal dos mais afiados as costas de alguém.


Imagine o sacrifício que muitos cidadãos, não suportando mais viver em áreas de conflitos bélicos dos mais violentos, com bombas e mísseis capazes de cair em qualquer residência, atingindo dezenas de pessoas diariamente, terem, portanto, que se mudar para a Europa, onde esperam ter um mínimo de paz e dignidade, não raro enfrentando tragédias e dificuldades extremas.

Consta-se que cerca de 423 crianças, talvez mais, morreram nessa travessia longa, demorada e feita em muitas etapas. O menino Aylan Kurdi, de três anos, o da foto desta postagem, é um desses exemplos e cujo corpo, encontrado no Mediterrâneo, chocou o mundo inteiro, criando uma grande comoção sobre o drama dos refugiados.

Se considerarmos o juízo de valor de Divaldo Franco, beneficiado pelo confortável status do prestígio religioso, que lhe dá o aparente privilégio de sabedoria, sensatez e humanidade - em um DVD, Divaldo é classificado no título como "humanista" - , o pobre menino teria sido um sanguinário colonizador que tinha prazer de mandar condenados para se afogarem em alto mar.

Que fundamento Divaldo Franco teve para fazer tal acusação? Nenhum, pelo fato dele ter tido formação roustanguista e ser um grave deturpador da Doutrina Espírita, incompetente quanto ao rigor da Ciência Espírita. Além disso, se preocupar com uma encarnação antiga e já superada, de uns mais de 500 anos, é uma leviandade sem tamanho.

A declaração demonstra a soberba de alguém que há muito faz palestras para gente rica e se compraz com uma visão eurocêntrica que revela o temor de uma Europa descaraterizada por pessoas erroneamente associadas ao terrorismo. Muito poucas pessoas que fogem dos países do Oriente Médio são ameaçadoras. A coisa é muito diferente, por exemplo, do que se fez no Brasil colonial, quando bandidos, arruaceiros e outras pessoas desagradáveis foram jogadas para cá por Portugal.

São pessoas praticamente sem condições financeiras expressivas, famílias não raro numerosas, indivíduos recorrendo a seu próprio sacrifício, de fugirem para a Europa, andando quilômetros de distância, se instalando em sucessivos alojamentos, enfrentando embarcações apertadas, com a alma triste e traumatizada.

É possível que Divaldo Franco peça desculpas pelo comentário infeliz e, naquele seu discurso, dizer que os refugiados "merecem toda consideração". Mas aí é tarde demais. Afinal, a cada vez mais os palestrantes "espíritas" primeiro fazem comentários e alegações cruéis, para depois pedirem desculpas. Como se não bastasse traírem os ensinamentos de Allan Kardec o tempo inteiro e depois se autoproclamarem "rigorosamente fiéis" a ele.

O prestígio religioso não pode permitir tais julgamentos. Ninguém está acima de tudo. O "amor" do "movimento espírita" não pode estar acima da Lógica e do Bom Senso. Não há como promover a fraternidade do Bom Senso com o Contrassenso e usar conceitos duvidosos, refutados por Kardec, como "resgates coletivos" (uma multidão vista como "gado expiatório" de ocorrências infelizes e, por vezes, funestas).

Na verdade, a sociedade paga um preço caríssimo por se apegar às paixões religiosas e dar crédito aos deturpadores do Espiritismo, que usam a "caridade" e todo um artifício de belas palavras e uma filantropia que nunca ajudou de verdade - a Mansão do Caminho de Divaldo Franco não ajudou 0,1% da população brasileira e ele é "o maior filantropo do Brasil"? - e que serve mais para a promoção pessoal dos supostos médiuns, já beneficiados pelo culto à personalidade.

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